Por Mayra Sartorato
A mídia
tradicional versus a inovação. Revistas, jornais, TV e rádio, de um lado. Sites
e blogs do outro. Todos tentam coexistir, alguns mantendo suas mesmas práticas
antigas e outros apostando na inovação. Neste cenário, onde ficam os sites?
Bem, os sites ainda precisam entender como ganhar dinheiro. E nessas idas e
vindas do jornalismo uma aposta pode ajudar a dimensionar as dificuldades
jornalísticas e, possivelmente, aponta para uma direção criativa: o newsgame.
Como dizem Ian
Bogost, Simon Ferrari e Bobby Schweizer, pesquisadores vinculados ao MIT (Instituto de Tecnologia de
Massachusetts, uma das universidades mais proeminentes do segmento), em seu
livro Journalism at play, “jogos simulam
como as coisas funcionam construindo modelos com os quais as pessoas podem
interagir”. Essa capacidade de
entendimento por meio de interação foi nomeada por eles de procedural rethoric (ou retórica procedimental, em tradução livre).
Resumidamente,
os pesquisadores norte-americanos apontam que a união entre jornalismo e games,
chamada de newsgames, funciona porque
“certas qualidades dos videogames os tornam a mídia complementar ideal para uma
educação jornalística”. Ou seja, muda a forma tradicional como se enxerga o
jornalismo e atinge a tão necessária reinvenção da produção jornalística.
Segundo Heloisa
Helena Oliveira Buarque de Hollanda, pesquisadora filiada à Faculdade de
Letras e ao Programa Avançado de Cultura Contemporânea da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, em
artigo publicado em novembro, os newsgames
são “um modelo de jogo digital que se vale de acontecimentos reais para
produzir e difundir conceitos sócio-políticos na rede”. Esse termo, que de
acordo com ela “foi criado em 2003, pelo uruguaio Gonzalo Frasca, designer,
fundador da empresa Powerful Robot e
autor do jogo ‘September 12th’”,
demonstra que os videogames podem fazer bom jornalismo. E de forma
relativamente simples: dando jogabilidade a uma notícia.
O Brasil é o
mercado ideal para esse tipo de criação jornalística. Afinal, o
País é o maior mercado da América Latina, é o 11º no ranking global de
movimentação relacionada a games em dinheiro, com perspectiva de mover US$ 1,33
bilhão apenas em 2014, especialmente em função dos 49 milhões de jogadores
encontrados por aqui. Logo, é preciso investir nessa ideia no Brasil, como
vem fazendo a Superinteressante, revista do Núcleo Jovem da Editora Abril.
A produção da
revista, atualmente liderada por Fred di Giacomo, é referência mundial na
produção de newsgames. Como
ele mesmo conta ao blog Jornalismo nas Américas, mantido por Natália Mazotte,
aluna da Universidade de Austin, no Texas, sua participação no
desenvolvimento de newsgames aconteceu
logo em um dos primeiros jogos lançados pela Abril, o Strip
Quiz. Outros destaques da produção da revista no mundo dos newsgames são a Corrida
Eleitoral, que tinha como gancho as eleições presidenciais de 2010, o Filosofighters,
cujo insumo era apresentar as ideias dos principais filósofos, e até um game
exclusivo para Facebook, o Quis
City.
Desde então,
outras empresas – como G1 e Estadão – também passaram a apostar no formato e,
em quase todas as ocasiões, de forma bem-sucedida. Mesmo assim, no entanto, o
modelo ainda não é muito difundido na mídia nacional e as tentativas de acerto
ainda envolvem muitas incertezas. De forma mais negativa, vale citar a
dificuldade das mídias alternativas de engrenarem nesse nicho.
Di Giacomo
aponta que a pouca disseminação dessa ideia no Brasil não está necessariamente
associada a um viés tradicional de apresentar a notícia. “A dificuldade para
trabalhar com newsgames nas mídias
alternativas é o custo”, porque “esse tipo de trabalho exige uma equipe
multimídia que nem todo veículo menor tem disponível”. No entanto, para ele, os
jogos podem ser uma ferramenta poderosa. “O formato tem grande potencial não só
para atrair mais público, com seu enorme poder de simulação e envolvimento da
audiência, mas também para diversificar o conteúdo e agregar valor a essas
marcas”.
Agregar valor às
marcas. Nesse ponto, di Giacomo resume de forma muito simples um dos maiores
desafios dos meios de comunicação online brasileiros. Com uma dominância dos
grandes impérios e a pouca democratização da produção jornalística, o
jornalismo independente ainda corre o risco de sucumbir frente à mídia
tradicional. A partir do momento em que essa possibilidade se diluir – se é que
esse cenário se tornará viável algum dia –, os newsgames podem fomentar o crescimento da mídia tida como
alternativa.
Nesse dia,
finalmente, será possível desbancar a imprensa tradicional, que ainda é
poderosa por aqui. Mudando o contexto completamente - tirando a afirmação de di
Giacomo da zona dos newsgames e
levando-a para um âmbito jornalístico geral -, ainda temos muito o que testar. “Ainda
estamos só no começo”.
Para saber mais: Newsgames da Superinteressante
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